domingo, 9 de agosto de 2009



Há certas horas, em que não precisamos de um Amor...
Não precisamos da paixão desmedida...
Não queremos beijos na boca...
E nem corpos a encontrarem-se na maciez de uma cama...


Há certas horas, que só queremos a mão no ombro, o abraço apertado ou mesmo o estar ali,
quietinho, ao lado...
Sem nada dizer...

Há certas horas, quando sentimos que estamos p'ra chorar, que desejamos uma presença amiga, a nos ouvir paciente, a brincar com a gente, a nos fazer sorrir...

Alguém que ria das nossas piadas sem graça...
Que ache as nossas tristezas as maiores do mundo...
Que nos teça elogios sem fim...

E que apesar de todas essas mentiras úteis,
nos seja de uma sinceridade inquestionável...

Que nos mande calar ou nos evite um gesto impensado...

Alguém que nos possa dizer:
Acho que estás errado, mas estou a teu lado...

Ou alguém que apenas diga:

Sou o teu amor! E eu estou Aqui!

William Shakespeare

NADA COMO O TEMPO



Com o tempo, vais percebendo que para se ser feliz com outra pessoa, precisas, em primeiro lugar, de não precisar dela.

Percebes também que aquele alguém que amas e que não quer nada contigo, definitivamente não é o "alguém" da tua vida.

Aprendes a gostar de ti, a cuidar de ti e, principalmente, a gostar de quem também gosta de ti. O segredo é não correr atrás das borboletas... mas sim cuidar do jardim para que elas venham até ti.

No final das contas, vais achar não quem estavas à procura, mas quem estava à procura de ti!




Autor Desconhecido

Na Noite Terrível

Na noite terrível, substância natural de todas as noites,
Na noite de insônia, substância natural de todas as minhas noites,
Relembro, velando em modorra incómoda,
Relembro o que fiz e o que podia ter feito na vida.
Relembro, e uma angústia
Espalha-se por mim todo como um frio do corpo ou um medo.
O irreparável do meu passado — esse é que é o cadáver!
Todos os outros cadáveres pode ser que sejam ilusão.
Todos os mortos pode ser que sejam vivos noutra parte.
Todos os meus próprios momentos passados pode ser que existam algures,
Na ilusão do espaço e do tempo,
Na falsidade do decorrer.

Mas o que eu não fui, o que eu não fiz, o que nem sequer sonhei;
O que só agora vejo que deveria ter feito,
O que só agora claramente vejo que deveria ter sido —
Isso é que é morto para além de todos os Deuses,
Isso — e foi afinal o melhor de mim — é que nem os Deuses fazem viver ...

Se em certa altura
Tivesse voltado para a esquerda em vez de para a direita;
Se em certo momento
Tivesse dito sim em vez de não, ou não em vez de sim;
Se em certa conversa
Tivesse tido as frases que só agora, no meio-sono, elaboro —
Se tudo isso tivesse sido assim,
Seria outro hoje, e talvez o universo inteiro
Seria insensivelmente levado a ser outro também.

Mas não virei para o lado irreparavelmente perdido,
Não virei nem pensei em virar, e só agora o percebo;
Mas não disse não ou não disse sim, e só agora vejo o que não disse;
Mas as frases que faltou dizer nesse momento surgem-me todas,
Claras, inevitáveis, naturais,
A conversa fechada concludentemente,
A matéria toda resolvida...
Mas só agora o que nunca foi, nem será para trás, me dói.

O que falhei deveras não tem esperança nenhuma
Em sistema metafísico nenhum.
Pode ser que para outro mundo eu possa levar o que sonhei,
Mas poderei eu levar para outro mundo o que me esqueci de sonhar?
Esses sim, os sonhos por haver, é que são o cadáver.
Enterro-o no meu coração para sempre, para todo o tempo, para todos os universos,

Nesta noite em que não durmo, e o sossego me cerca
Como uma verdade de que não partilho,
E lá fora o luar, como a esperança que não tenho, é invisível p'ra mim.

Álvaro de Campos